quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A ARMA (PARTE II) - O Natal de "S" - (Autor: Antonio Brás Constante)

MENSAGEM AOS LEITORES: Olá meus jovens leitores de todas as idades, antes de iniciar o último texto de 2010 (estou fugindo para praia por alguns dias, longe de micros, internet, telefones, etc.), quero lhes dizer que este ano foi bem atípico para mim. Iniciei 2010 pensando seriamente em parar de escrever (já que até mesmo as tentativas de divulgação do livro e o lançamento do vídeo de humor que fiz ficaram aquém de minhas expectativas, não conseguindo fazê-las fluir nem mesmo através de meus contatos). Eu cogitei em largar de vez esta minha amante caprichosa que é a escrita (que muitas vezes considero como uma praga irritante que domina minha mente e a qual trato como uma Rainha) e me contentar em utilizar meu tempo livre para dar mais atenção a minha segunda amante, a leitura, tantas vezes deixada de lado. Mas desisti de desistir, pois me dei conta de que sou um mero escravo totalmente submisso aos mandos e desmandos da escrita (isso não significa que estou dizendo que escrevo bem ou mal, apenas que não governo esta vontade). Não posso abandonar a escrita, simplesmente porque estou preso a ela por um desejo inexplicável. A única opção de liberdade seria ela me abandonar, largando as cordas que me prendem para que enfim eu possa encerrar a lida de tentar ser lido. Este ano alcancei e ultrapassei a marca de 300 leitores diretos, algo que me gratifica mesmo sem saber quantos de vocês realmente lêem os textos que envio. Quantos me permitem esta comunhão entre autor e leitor, doando para mim o seu precioso tempo. De qualquer modo, sendo você um leitor assíduo, eventual ou ausente, lhe agradeço a oportunidade de poder ter feito parte de sua vida, mesmo que através de apenas um único e singelo texto. Grande abraço natalino e de ano novo de novo (já que todo ano tem novamente de novo e de novo um ano novo). Boas leituras. ABC.

 

P.S: Mas se por acaso não receberem mais meus textos a partir de 2011 é porque o escritor que existia dentro de mim finalmente foi embora.

 

 

SOBRE O TEXTO A SEGUIR: Para quem não leu o texto “A arma (parte I)” vale lembrar que na época do desarmamento passei a escrever alguns esboços sobre o assunto em forma de contos, este é o segundo texto que fiz sobre o tema, onde a ideia seria transformar os textos em um livro que acabou engavetado, mas resolvi passar a publicar algumas de suas partes para não deixar o conteúdo totalmente esquecido. São textos fortes e pesados, por isso aos que forem continuar lhes desejo uma boa leitura...

 

A ARMA (PARTE II) – O Natal de “S

(Autor: Antonio Brás Constante)

 

Ela tinha feito 22 anos a poucas semanas. A inicial de seu nome era “S”, e este seria o pior Natal de sua vida. A consciência foi voltando ao seu corpo lenta e dolorosamente. Ela sentiu a laje fria onde estava deitada, seminua e indefesa. Suas roupas rasgadas e ensangüentadas. Tinha alguns dentes quebrados e sentia na boca um gosto nauseante de sangue e esperma. Seu corpo estava repleto de hematomas, advindos dos chutes, socos, tapas e mordidas que havia levado. Uma de suas costelas parecia trincada. A perna direita estava bem machucada.

 

Era madrugada do dia 25 de dezembro. A garota mal se lembrava de como foi parar ali, pois sua mente parecia ter bloqueado parte dos horrores pelos quais passou, na tentativa de lhe manter um pouco de sua sanidade. Ela estava voltando para casa do serviço quando o monstro-humano apareceu, e antes que pudesse perceber já estava dentro do carro dele, arrastada de forma brutal e nocauteada com um violento soco no rosto. Quando voltou a si já estava naquele lugar sujo e assustador, foi então que o terror começou. Ele bateu muito nela enquanto a estuprava, saboreando o sofrimento que causava, e quando achou que ela havia desmaiado, resolveu urinar em cima de seu corpo inerte, por pura perversão. Mas desta vez o maníaco cometera um erro, talvez por ela vir a ser a sua quinta vítima, ele tivesse ficado mais confiante e sujeito à falhas, pois não a amarrou ou drogou como as outras.

 

O monstro havia recebido a alcunha de assassino do Natal, algo que lhe deixava com certo orgulho por seus “trabalhos” serem reconhecidos pela mídia. Nos últimos anos ele sempre escolhia uma vítima aleatoriamente nesta época do ano. Seqüestrava, espancava e violentava a mulher. Depois a estrangulava e esquartejava, largando seus pedaços em vários pontos da cidade onde estava (sempre uma cidade diferente).

 

A garota, mesmo assustada, conseguiu a frieza necessária para manter a calma, fingindo que continuava desmaiada. Esperou até que o brutamontes se afastasse (provavelmente ele estaria indo ao carro para pegar mais bebida, ou quem sabe um facão para terminar o serviço), e iniciou sua fuga. Não conseguia correr, pois sua perna doía muito, mas mesmo mancando tentou se afastar o mais rápido que podia do seu cativeiro.

 

Descobriu que estava em uma zona aparentemente abandonada da cidade, um lugar desolado mesmo naquela época do ano. Havia prédios velhos de estrutura danificada e aparência maltratada e, o que era mais assustador: Ninguém para pedir ajuda. Nem um automóvel. Nem um pedestre. Mas ela não estava sozinha, mesmo distante podia sentir a presença do seu algoz cada vez mais perto, que a esta altura já havia percebido sua fuga.

 

Tomada pelo desespero S acabou entrando em um beco, na esperança de se esconder, mas se deu conta (somente quando já era tarde demais) de que o lugar era sem saída. O homem parou na entrada do beco. Estava chapado e alcoolizado. Ao perceber que não havia saída dali começou a rir da mulher, dizendo todas as atrocidades que faria com ela antes de matá-la. Ele era gigantesco perto dela. Tinha mais de um metro e noventa, e quase cento e vinte quilos, enquanto ela tinha estatura mediana, um belo corpo. Era loira (pintava os cabelos), e olhos extremamente atraentes, mesmo quando assustados, apesar de estarem inchados.

 

A única luminosidade presente era da lua cheia, testemunha dos acontecimentos grotescos que ali se desenrolavam, e que parecia observar tudo placidamente com seu olhar de prata.

 

Ele foi se aproximando vagarosamente de S, tirando a roupa em uma espécie de strip-tease profano. Um pouco de saliva escorria do canto de sua boca, descendo pelos fios de barba de seu queixo.

 

Ela tropeçou no lixo e caiu. Sabia que não adiantava gritar, por isso foi se arrastando em silêncio cada vez mais para o fundo do beco, como se isso pudesse de alguma forma salvá-la.

 

O ser boçal e animalesco já estava totalmente nu e se preparava para atacá-la. Não tinha pressa, pois queria aproveitar cada momento sorvendo o medo que inspirava em sua vítima. A jovem em um último ato de desespero tentou encontrar no meio do lixo algo para se defender, como um pedaço de madeira ou uma garrafa.

 

Quando tudo parecia perdido para S, algo chamou sua atenção. Escondida em meio a alguns jornais velhos ela encontrou uma arma. O que S não sabia e neste momento não importava, era o fato de aquela arma ter parado ali há cerca de três dias atrás. Um assaltante encontrara o artefato em uma casa que havia arrombado, quando foi surpreendido pela chegada do dono da residência. De posse da arma o ladrão deu três tiros no morador, deixando-o morto no próprio gramado. O meliante fugiu da cena do crime e, após andar muito pela cidade, ficou com medo de continuar com a arma, pois caso fosse apanhado ela poderia incriminá-lo, por isso entrou naquele beco e largou-a no meio dos jornais, para quem sabe em outra hora voltar para vir buscá-la - Nota do autor: ver o texto “A ARMA (parte I)”, disponível em: abrasc.blogspot.com.

 

A jovem não acreditava no que seus olhos viam. Pegou a arma sepultada durante três dias em meio a uma cova de jornais velhos e a ressuscitou em suas mãos, sentindo o calvário de medo, desespero e dor sumirem de dentro de sua alma. O psicopata já estava bem próximo a ela, e quando percebeu o que a jovem segurava parou por um momento seu avanço. Mas ele era o predador e ela apenas uma presa insignificante. Disse para mulher largar a arma, e que se ela não fizesse isso ele a tiraria dela e lhe espancaria a coronhadas, disse muitas coisas, disse muita merda.

 

S permanecia caída e meio que de joelhos na frente dele, mas era outra pessoa, havia se transformado diante do poder e da segurança que agora repousava em suas mãos. Mirou em um ponto do corpo do marginal e disparou o primeiro tiro. A bala transpassou e arrancou parte dos testículos do homem, que caiu de joelhos tomado pela dor.

 

A mulher então se levantou calmamente. Suas mãos não tremiam mais. Depois de ser tantas vezes subjugada por aquele monstro, agora era ela que estava de pé e ele de joelhos. Ele gritava de ódio e dor, vociferando como um animal ferido e praguejando toda sorte de impropérios. Dizia com voz agonizante que iria matá-la ainda mais lenta e dolorosamente. Mas ela parecia não escutar as ameaças, foi apenas circulando em volta do homem caído, até se colocar atrás dele.

 

Ela segurou a arma com força e desferiu uma coronhada na cabeça do maníaco. Com a pancada ele bateu com o rosto no chão ficando com os quadris erguidos e expostos. Então ela fez o impensável. Penetrou com o cano da arma as ancas do homem, que gritou de forma excruciante.

 

Com um leve sorriso nos lábios, que tanto poderia ser de prazer ou loucura, S enfim apertou o gatilho, disparando novamente. A bala varou as entranhas do monstro-humano dando um fim a sua vida de crimes e mortes. De escrava submissa e servil S passou a ser Rainha dominante  e triunfante de seu próprio destino.

 

A moça permaneceu um longo tempo imóvel, olhando para o nada como se estivesse em transe, até ouvir o badalar dos sinos que começaram a tocar ao longe, anunciando o amanhecer de um novo dia, era Natal. A luz do sol aos poucos foi iluminando o lugar de forma redentora. S saiu do beco caminhando em direção ao som dos sinos, renascida do inferno pelo qual passou, levando traumas que talvez nunca fosse curar, e deixando no beco a casca de carne morta do seu algoz, empalada com uma arma enfiada no rabo. Uma arma que ainda não havia terminado sua sina, e que poderia vir a ser o instrumento de novas mortes, executando sem ponderar a vontade soberana dos seres humanos que se servissem de seu poder.

 

FAZENDO MEU PÉ DE MEIA, OU SIMPLESMENTE, NOTA DO AUTOR: Aproveitando o clima natalino e com ele toda a tradição de se dar presentes de Natal e amigo secreto, vale lembrar que um livro é sempre uma boa opção de presente, e já que oferecer o próprio livro não é pecado (pecado seria atirá-lo na cabeça do Papai Noel, ou entupir alguma privada com ele), fica a dica. Caso tenham gostado da ideia, basta adquiri-lo através das livrarias Saraiva, Cameron ou no próprio site da editora AGE: www.editoraage.com.br. E se quiserem adquirir o livro AUTOGRAFADO, me enviem um e-mail para: abrasc@terra.com.bre conversamos.

 

NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário” (o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou para fazer parte de minha lista de leitores, que recebem semanalmente meus textos, para isso basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

 

Site: recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

 

ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o Orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entenda-se como inimigo, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).

 

 

 

Um comentário:

Dario B. disse...

Ótimo texto, Tonhão. Prende a tenção desde o inicio. Espero que essa vontade de escrever seja mesmo passageira, e não deixe faltar teus textos para os que o admiram. Forte abraço, irmão.