segunda-feira, 3 de setembro de 2007

DO INFORMAL AO ILEGAL

DO INFORMAL AO ILEGAL
(Antonio Brás Constante)

A vida está cada vez mais difícil. Empresas trocando carteiras assinadas e garantias de emprego por estágios temporários, exigindo qualificações que envolvem desde o conhecimento de línguas, até mestrado e habilidades cinematográficas em informática. Procurando pessoas cada vez mais jovens, que tenham preferencialmente, anos de experiência. Tudo isso para trabalhar em troca de um salário mínimo.
Na bagagem pedem que se tenha vivido algum tempo no exterior (buscar muamba no Paraguai não serve para preencher este quesito). Com todas essas exigências, somadas a falta de empregos, juntamente com a roubalheira descarada dos políticos e a onda de insegurança que só aumenta. Muitas pessoas poderiam pensar que talvez esta seria a hora de darem um novo rumo em suas vidas, baseadas na frase: “se não pode com eles, junte-se a eles”. Como? Partindo para uma atitude extrema e abrindo, por exemplo, uma boca de fumo.
Pense nas vantagens. Começando pela propaganda que seria gratuita, pois seus produtos estariam sempre sendo noticiados através dos meios de comunicação (nas páginas policiais). Você não teria mais clientes, teria “usuários”, que seriam literalmente viciados em sua mercadoria. Qualquer um poderia falar abertamente que seu produto é uma droga, sem comprometer as vendas. Sempre que fosse preso aproveitaria o tempo na cadeia para se atualizar sobre as novas tendências de mercado. Seria como uma espécie de “internato” que somaria pontos em sua nova ficha profissional (e policial).
Não teria mais medo de ser assaltado por ladrões, somente por clientes. Ao invés de um curso de línguas, você necessitaria conhecer a linguagem das gírias (no final perceberia que são quase a mesma coisa). Não pagaria mais impostos, apenas propinas.
Como a educação, a segurança, a saúde, etc. estão uma droga, o seu produto estaria bem inserido no contexto social junto à população. Grana não seria problema aos seus consumidores, pois eles estariam acostumados a recorrer às instituições financeiras em busca de fundos (entrando pelos fundos), a qualquer hora do dia ou da noite. Sem precisar de cartões de crédito ou mesmo de empréstimos, já que os saques de dinheiro ocorreriam através do saque de suas armas de fogo.
Claro que o dinheiro seria fruto de mãos sujas de sangue, ações covardes e monstruosas, destruição de vidas, entre tantas outras situações que provavelmente lhe deixariam com algum peso na consciência. Mas, lembre-se que caso tivesse escolhido o ramo político, poderia acabar fazendo tudo isso e muito mais, e de uma forma bem pior.
Em seu “empreendimento” marginal pelo menos não estaria enganando ninguém quanto aos seus propósitos. Jogaria limpo através de um jogo sujo, no qual não existiriam contratos formais, e por isso a palavra dada possuiria um peso muito grande (como era antigamente). Ao contrário da política, onde geralmente prometem, prometem e prometem, sempre cheios de convicção, falsidade e mentiras.
Enfim, a honestidade vem cada vez mais rimando com raridade. Onde os trabalhadores, estes heróis modernos que enfrentam todo o jugo de uma administração pública corrupta, de um sistema penal falido e de uma carga de impostos cada vez mais imoral, vêm tentando sobreviver como podem, buscando acreditar que a situação ainda vai mudar e quem sabe até melhorar. Resta-nos torcer para que eles tenham razão em suas crenças. Porque quando esta tênue luz de esperança se apagar, mergulharemos de vez em um escuro abismo sem volta.

E-mail: abrasc@terra.com.br
(Site: www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)

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